quarta-feira, 4 de abril de 2012

Simuladores

Só não podemos esquecer, que quando é o nosso dinheiro "real" que esta em jogo, os sentimentos não são os mesmos. Não arriscamos da mesma maneira! Não são todos os investidores que alcançam o sucesso dos simuladores na vida real.


Muito além do Banco Imobiliário
Por Sérgio Tauhata | De São Paulo

O consultor Cristiano Buchar perdeu dinheiro em 2008 e ficou traumatizado, mas games o ajudaram a recuperar a confiança para voltar ao mercado em 2011

Na época um recém-chegado ao mercado acionário, o consultor tributário Cristiano Vargas Buchar, 34 anos, viu seus rendimentos virarem fumaça de uma hora para outra em 2008. O crash durante a crise do subprime levou o Ibovespa a acumular perdas de 42,22% naquele ano. O tombo causou uma fratura na confiança do investidor, que se tornou arredio e ressabiado com tudo relacionado a ações.
Mesmo a recuperação que se observou na BM&FBovespa em 2009 foi insuficiente para animá-lo a retornar. Buchar acreditava-se despreparado para enfrentar os riscos do setor. No segundo semestre de 2011, no entanto, decidiu voltar a investir em papéis de empresas, ainda que as ações passassem por grande volatilidade em pleno turbilhão causado pelos problemas da Grécia. O que mudou? Um jogo o ajudou a compreender como equilibrar os riscos de sua carteira.
Meses antes de voltar a aplicar em renda variável, Buchar conheceu o Dosh, um simulador de home broker para Facebook. Entusiasmou-se. "Comecei a fazer algumas aplicações para desenferrujar e, quando vi, a febre do investimento já tinha me conquistado de novo." O sistema turbina os poderes dos usuários, que podem 'aplicar' também em ações de companhias listadas nas bolsas de Nova York e Nasdaq, por meio da bolsa BATS.
"Nós queríamos montar uma plataforma de jogo. Por isso acrescentamos a possibilidade de se aplicar em papéis no exterior, o que não é possível na vida real. Além disso, aproveitamos os recursos da rede social: os usuários podem seguir uns aos outros, conversar e até fazer apostas", explica André Fonseca, CEO da ZukFab, criadora do Dosh.
Para Buchar, a competição do jogo ajuda a manter o interesse em alta. "O sistema tem ranking e isso nos estimula a ver quem ganha mais", conta ele. A disputa fica ainda mais acirrada, porque parte da pontuação pode ser trocada por prêmios em dinheiro. "No ano passado consegui alcançar o primeiro lugar e já ganhei R$ 1,7 mil." A plataforma conta hoje com 100 mil usuários cadastrados.
"Jogar me permitiu aprender mais sobre o mercado, uma vez que as cotações são de verdade. Na bolsa real estou usando estratégias que simulei primeiro no Dosh. E está dando certo." O consultor diz que desde que voltou a investir em ações, no fim do ano passado, tem conseguido um retorno médio de 5% ao mês com os papéis de sua carteira real. "Mesmo antes de o mercado embalar de novo, conseguia ganhos de 3% no mês."
A experiência do consultor Cristiano Buchar ilustra como os games on-line podem acelerar o aprendizado de conceitos financeiros. Coordenador do portal Game Cultura e doutor em semiótica com especialização em videogames, o professor Roger Tavares, do Centro Universitário Senac-SP, avalia que a tecnologia digital reproduz com fidelidade condições da vida real dentro de um ambiente virtual e, assim, permite ao jogo ser ao mesmo tempo entretenimento e um laboratório de teste.
"Através dos games você verifica coisas que acabam não sendo percebidas no dia a dia fica. Por exemplo, se ficar rolando o cartão de crédito qual será o prejuízo? Ou como testar os modelos de orçamento equilibrado? Os jogos permitem que você possa fazer isso sem obviamente ter o prejuízo", diz.
Ciente do potencial das ferramentas on-line para a educação financeira, a Cedro Finances, consultoria de TI especializada no mercado financeiro, criou no início de 2011 a plataforma Goumi, um jogo dentro do conceito de Massive Multiplayer On-line Game (MMO), voltado a crianças e adolescentes entre sete e 15 anos. "O ambiente reproduz uma cidade, onde cada usuário tem seu 'avatar' e pode interagir entre si. O objetivo do Goumi é prosperar e aprender. Para isso, os jovens tem de administrar seu orçamento, criar negócios e investir", explica o gerente de Marketing da Cedro, Samuel Paiva.
Com seis mil jogadores, Paiva diz que a meta do Goumi para 2012 é alcançar 100 mil usuários, por meio de promoções e parcerias. "Nós temos tido uma ótima receptividade nas escolas. Educação financeira com livros não funciona direito para crianças pequenas. A diversão ajuda muito nessa hora", afirma Paiva.
A Cedro, parceira da BM&FBovespa, também é a desenvolvedora do simulador "Valor em Ação", no portal do Valor na internet. O game, que este ano vai dar um carro ao vencedor da temporada de 2012, já conta com 3,9 mil usuários. No simulador, que reproduz a operação de um home broker, o participante recebe um aporte virtual de R$ 100 mil para "aplicar" na bolsa.
O professor do Senac Roger Tavares ressalta também benefícios adicionais dos games. Segundo o especialista, a simples prática ajuda a desenvolver qualidades cognitivas e habilidades, como raciocínio lógico e até liderança. "Pra ganhar uma partida multiplayer o jogador tem de bolar estratégias, saber formar uma equipe e avaliar cenários. É uma maneira de se exercitar vários tipos de inteligência."

                                        Neco Varella/Valor / Neco Varella/Valor        Cristiano Buchar

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